Geralmente os atletas profissionais começam a treinar para se tornarem esportistas de alta performance desde muito cedo. A skatista Rayssa Leal (medalha de prata nas Olimpíadas de Tokio, 14 anos) é um exemplo de crianças atletas.
Contudo, quais podem ser as consequências de tanta pressão e responsabilidade ainda na infância? Como isso pode afetar a vida adulta desses atletas?
A psicogenealogista Roberta Calderini, pesquisa de que maneira os primeiros acontecimentos na vida de uma criança influenciam o futuro dessa pessoa.
De acordo com Calderini, as responsabilidades devem ser incluídas devagar durante a infância. Além disso, os momentos de alegria e lazer precisam estar presentes no dia-a-dia das crianças. No entanto, em geral, isso não acontece na vida desses atletas que desde pequenos renunciam às horas de lazer com amiguinhos e família para se dedicar aos treinos e às competições.
“Toda criança que recebe responsabilidade cedo demais vai ter impactos no futuro. Na infância, a criança precisa dos momentos de prazer, de brincar e de se divertir sem muitas pressões. Essa responsabilidade deve ser introduzida aos poucos. Quando bebês, os pais são inteiramente responsáveis. Depois, eles começam a ser responsáveis pelos brinquedos, pelo prato de comida que colocam na mesa para ele, posteriormente pelos estudos, pelo relacionamento com os amigos. Na adolescência, começam a ser responsáveis pela construção de um caminho para carreira, até que chegam à fase adulta e são donos de si. Há uma adição lenta de tarefas“.
Os riscos no futuro
Consequentemente, no futuro, essas crianças atletas tão cheias de responsabilidades, buscarão compensar a falta da infância durante a vida adulta. “Isso cria adultos com uma tendência a buscar pelo prazer em excesso, pelo direito de cometer irresponsabilidade e curtir a vida, aquela liberdade que não teve na infância. É comum, por exemplo, que eles busquem substâncias psicoativas, porque há ali uma criança que precisava sentir prazer, mas teve muitas responsabilidades muito cedo, e agora busca esse prazer de forma irresponsável. Um efeito rebote“, explica A psicogenealogista.
Como os pais das crianças atletas devem atuar
Sendo assim, Calderini alerta que é responsabilidade dos pais iniciar as crianças no esporte de forma leve, como se fosse um hobbie, independentemente dos objetivos finais. “A criança deve enxergar isso como algo divertido e não como uma pressão. Não deve ser um trabalho para ela, algo que, ela precise vencer, ser perfeita, ou estar sempre no pódio. O papel dos pais em amortecer essa pressão é fundamental“.
Outra questão destacada pela psicogenealogista é que, às vezes, os pais querem se realizar no esporte através de seus filhos criando ainda mais expectativas. “A dor e frustração de perder é duplicada neste caso, porque a criança irá projetar derrotas ou falhas como algo que desaponta os pais e a partir disso, sentimentos como frustração, insegurança e medo surgem“.
Aprender a lidar com a pressão e ter acompanhamento psicológico desde cedo é fundamental para esses atletas performáticos desde a infância, pontua Roberta Calderini, chamando a atenção e exemplificando com os casos de Simone Biles e Gabriel Medina: “Desta forma, a criança vai aprendendo a como se blindar e equilibrar o lado emocional, sendo menos suscetível à excessos na vida adulta ou mesmo ao adoecimento psicológico que pode em algum momento, até mesmo impedir a essa pessoa de competir, como vimos recentemente no caso de atletas como Simone Biles e Gabriel Medina“.