Na verdade, a pechincha nasceu junto com o comércio. Historicamente, até serem inventadas as etiquetas de preços em 1860 (Paris), os valores sempre eram negociados entre o cliente e o comerciante.
Como sempre, as coisas mudam com a modernidade. Após a invenção das etiquetas essas negociações diminuíram e promoções passaram a ter um significado de liquidação de estoque.
Mais de um século depois, novas mudanças nos processos de venda passaram a fazer parte da realidade varejista. Os consumidores do século 21 adoram uma boa pechincha.
Pesquisas mostram que um a cada quatro consumidores só compra roupas em épocas de liquidação.
Nesse sentido, as empresas vão se adaptando a esse novo comportamento. Por exemplo, 45% do estoque das redes varejistas norte-americanas é vendido através de promoções. O modelo vem sendo repetido por aqui também, segundo a Exame.
o jornalista britânico Mark Ellwood, autor do livro Bargain Fever (“Febre por barganhas”, 2013) disse que “é muito provável que as vendas tradicionais, por preços cheios, desapareçam”.
Isso acontece basicamente por dois motivos principais: a internet tornou fácil e rápida a pesquisa de preços tirando o poder de definição de preços das lojas físicas. Outro fator importante é a variedade de produtos oferecidos. Enquanto nos anos 1950 um supermercado tinha cerca de 3700 itens nas prateleiras, hoje ultrapassa os 45000 itens oferecidos ao consumidor.
Antes, lançavam-se apenas duas coleções de roupas por ano. Atualmente trocam-se as peças todos os meses. Hoje, acabar com estoques é uma necessidade. Dois séculos atrás tudo era vendido em pequenos mercados de bairro e quem ditava os preços era a indústria. Isso porque a concorrência era baixa.
Como os grandes lidam com a pechincha
Grandes varejistas como o Walmart, por exemplo, concentraram o poder de dar preços aos produtos depois dos anos 1950 (pós guerra mundial). Enquanto naquela época o consumidor não fazia parte do processo, atualmente é exatamente ele quem define quanto pagar pelos produtos. Por isso, a indústria e o varejo fazem o que podem para se defender. Usam-se velhos truques para dar ao consumidor a impressão de estar fazendo boas negociações. Por exemplo, por no cardápio um prato muito caro traz a ilusão de que todos os outros pratos sejam baratos.
Além disso, atualmente, nada melhor do que a tecnologia para conquistar os clientes. Por exemplo, clientes fiéis da Netshoes (varejista online), além de receberem e-mails com descontos para a próxima compra, também recebem em casa pulseirinhas com códigos para participar de grandes liquidações antes do público em geral. A companhia aérea Azul também vive alertando seus clientes para passagens promocionais para lugares onde costumam viajar.
No entanto, há que se tomar cuidado com a maneira de fazer ofertas. Algumas varejistas online brasileiras tiveram muitos prejuízos até 2011 quando ofereciam fretes gratuitos na entrega para todas as regiões do Brasil. Não deu certo. Contudo, é impossível ignorar essa tendência.
Outro exemplo é a varejista americana JC Penney que até 2011 vendia somente 0,2% de seus produtos a preços cheios. No entanto, a empresa acabou com as ofertas em 2012 afugentando seus consumidores e perdendo 1 bilhão de dólares. Assim, teve que voltar à estratégia de ofertas.
Pouquíssimas empresas conseguem seguir sem a estratégia promocional. Isso porque aliam a pouca variedade de produtos a uma rede própria de distribuição. É o caso da Louis Vuitton e da Apple que, mesmo assim, passaram a fazer pequenas ofertas.
Atualmente, nada acontece sem uma boa pechincha.